Na manhã deste sábado (14) aconteceu em Chapecó/SC uma aula pública com a temática “Juventude e Direitos Humanos”, organizada por estudantes e professores da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). A aula ocorreu na praça central da cidade, em horário de grande movimento de pessoas. O evento chamou a atenção dos transeuntes e muitos pararam para ouvir o debate e participar das discussões.

    O professor do Instituto Federal do Paraná (IFPR – campus Palmas), Samuel Radaelli, abriu o debate e ministrou uma aula com o tema ‘O quê querem os que não querem os direitos humanos?’. Durante sua fala, o professor comentou que oportunistas da mídia sensacionalista e políticos ligados à bancada da bala tentam implantar na sociedade uma cultura do medo, com um discurso que alardeia que o problema da violência nas cidades se resolve com mais violência, armas e truculência, capitalizando seus lucros através disso. “Esses oportunistas querem manter o seu rebanho através do medo. A saída para a violência são os direitos humanos, é garantir direitos para as pessoas, e é nisso que a democracia deveria apostar”, argumenta ele.

    Uma das motivações para a realização da aula foi o caso ocorrido na noite de 3 de outubro deste ano, quando a Polícia Militar invadiu uma república de estudantes durante uma festa em Chapecó e submeteu os presentes a uma verdadeira seção de tortura que durou aproximadamente 1h30min. Homens e mulheres foram agredidos física e psicologicamente pelos PMs com tapas, pontapés, puxões de cabelo e xingamentos de cunho machista, homofóbico, xenofóbico e de outros preconceitos. Fuzis e escopetas foram apontados para o rosto dos estudantes e professores. Porém, durante as intervenções no debate aberto que seguiu a aula de Radaelli, os participantes deixaram claro que este não é um caso isolado de violência policial e que nas periferias e favelas esta situação é cotidiana. Segundo dados divulgados pelo Datafolha em Julho de 2015, 63% dos moradores de cidades com mais de 100 mil habitantes têm medo de sofrer agressões da PM, e a maioria dos que relataram ter medo da PM são jovens, pobres, autodeclarados pretos e moradores de favelas.

   O estudante da UFFS, Vinicius Pacine, afirma que a aula pública foi uma maneira que a comunidade acadêmica encontrou para expressar o seu repúdio pelas agressões da PM na república de estudantes em Chapecó e por todos os outros casos absurdos de violência policial que acontecem diariamente. “Eu vi meus amigos e amigas sendo agredidos e humilhados pela polícia naquela noite da festa, foi muito triste e revoltante. Uma das coisas que me motivou a vir aqui hoje nesta aula pública foi participar de um ato de repúdio frente a essas ações policiais que usam de força desproporcional”, afirma Pacine.

   Não por acaso a praça central da cidade foi o local escolhido para a realização da aula, a ideia era ocupar temporariamente este espaço público para discutir e fomentar o pensamento crítico sobre direitos humanos, violência policial, homofobia e machismo, entre outros assuntos também abordados durante as falas. O microfone ficou aberto para todos que quisessem se expressar e contribuir no debate. “Ou a gente começa a discutir e se organiza frente a essas questões que estão sendo debatidas aqui hoje, ou vamos continuar sendo vítimas da polícia e dos preconceitos estruturais e naturalizados, que representam uma violência cotidiana para muitas pessoas”, lembra a estudante da UFFS, Carolina Bernardo.

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