Por Marcos Paulo Albert de Freitas
Discente de Licenciatura em Filosofia da UFFS Campus Chapecó
O discurso de Bolsonaro na ONU revela o quanto ele e a sua seita estão determinados a levar em frente a narrativa da “ameaça comunista”, o inimigo comum inventado e cultivado no imaginário de parte da população brasileira. Esse é um recurso velho, batido, utilizado historicamente pelas piores tiranias, no entanto, ainda se mostra eficaz em momentos de fragilidade de uma nação.
O Marcelo também usa e abusa dessa narrativa de combate quixotesco contra a poderosíssima esquerda que se infiltra em todas as camadas da sociedade e nas instituições. Eu não sei se eles realmente acreditam nisso, mas eles convencem muita gente de que, se necessário for, poderão suprimir a ordem democrática ou qualquer princípio de razoabilidade moral e política, em razão do nobre propósito de “limpar” a nação de uma verdadeira praga, um câncer generalizado na cultura, na universidade, no Estado, nas escolas, nos campos… Tal estratégia, o que tem de velha tem de pérfida e cruel. A exploração do Medo e da Esperança nas massas é talvez a mais comum forma de controle dos anseios de um povo, mas no caso de Bolsonaro e Marcelo isso também caracteriza um traço claramente fascista. Para quem lança mão desse recurso, o certo seria realmente afastar toda forma de diferença, toda manifestação crítica à sua arrogância pujante e grotesca, à sua burrice caricata, pois todo contrário e todo diverso é igual ao inimigo comum. E é assim que o excesso, a exceção e o abuso podem ser justificados pela figura desse inimigo temeroso: o comunista, o judeu, a bruxa, enfim…
Lembro de uma bisavó que temia os comunistas mais do que temia aos cangaceiros. Os comunistas que a qualquer momento conseguiriam invadir o país a mando de uma potência bolchevique para atear fogo nas casas, escravizar e estuprar as famílias, subverter a ordem e os costumes. Esse fantasma justificou uma ditadura que durou 27 anos, justificou a tortura e a morte.
No final das contas, o verdadeiro inimigo público é o que mais gasta saliva falando sobre um inimigo público fictício, um fantasma que representa hoje um medo para muitos, um medo que se torna tão convincente que, comparado a um gatilho de urgência, até os princípios mais basilares da democracia se tornam descartáveis, alienáveis e passíveis de serem relativizados.