Reitores do RS falam sobre as intervenções do Governo Federal nas IFES e os desafios do retorno — Prof. Anderson Ribeiro

Educação em Tempos de Pandemia: Os desafios do retorno, esse foi o tema da aula pública realizada pela ADUFRS e proferida pela Reitora da UFSCPA, profa. Lúcia Pellanda, e pelos reitores do IFRS, UFRGS, IFSUL, professores Júlio Heck, Rui Oppermann e Flávio Nunes.

O conjunto das Instituições Federais de Ensino (IFES) sediadas no estado do RS estão atuando conjuntamente para discussão de formas de enfrentamento da pandemia da Covid-19, além de compartilhar iniciativas e ideias relativas as atividades acadêmicas e administrativas. Destacaram, nesse grave momento nacional e mundial, o papel das IFES, que estão dando uma resposta rápida, eficiente e qualificada para as demandas, enfatizando que as instituições não estão paradas, estão trabalhando intensamente, realizando uma série da atividades acadêmicas, com foco na pesquisa e na extensão, e atividades de apoio às comunidades das regiões abrangidas.

Todos manifestaram-se sobre o mais novo e inédito ataque às instituições federais de ensino, a MP 979, que ainda não havia sido devolvida pelo congresso à presidência, apesar de não ser o tema da aula pública. O governo deixa muito claro sua intenção de intervir nas IFES, nas suas gestões, numa clara afronta a autonomia universitária. A qualidade das atividades desenvolvidas está intimamente ligada à autonomia e portanto aos processos democráticos: gestores eleitos democraticamente estão alinhados com as perspectivas da comunidade universitária, enquanto interventores, externos ou internos, não representam às ideias gerais desta comunidade, afirmou o Reitor Flávio Nunes.

Nas palavras da Reitora Lúcia Pellanda, a situação que já vem das nomeações de quem não foi eleito pelas comunidades, iniciada no ano passado, o que foi de certa forma tolerado, “culmina numa medida como essa, num ambiente em que as universidades foram escolhidas como as principais inimigas do Brasil, justamente quando elas estão totalmente envolvidas na defesa da vida e da soberania do país. […] Quando existe essa ruptura do tecido democrático nas instituições de ensino, isso reflete sobre a democracia de todo país, […] a universidade é justamente o lugar onde existe a pluralidade de ideias e diversidade de posicionamentos, então é um ataque que é muito mais que as nossas instituições de ensino, é um ataque a própria sociedade e a democracia no Brasil”.

O foco das manifestações foi em primeiro lugar a preocupação com a saúde da comunidade universitária e com a formulação de políticas e iniciativas que não excluam estudantes e servidores, além dos aspectos relacionados a formação docente, inclusão digital e acesso às condições de trabalho e estudo. Destacaram a atuação e o papel fundamental dos conselhos superiores da instituições na deliberação sobre as ações institucionais relativas ao período, tanto as de caráter acadêmico quanto de caráter administrativo.

O prof. Júlio Heck, Reitor do IFRS, enfatizou que o conjunto das IFES, ao pensar o retorno, tem como princípio a qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão, e o compromisso com a inclusão dos estudantes, que, mais do que nunca, demandam apoio das instituições.

O IFRS formulou diretrizes a serem observadas para o planejamento do retorno por meio de grupos de trabalhos com composição diversificada, incluindo representação de todos os segmentos e entidades sindicais e de representação. Resumidamente,

1. Compromisso com o acesso integral dos estudantes a todas as estratégias pedagógicas utilizadas para a retomada do calendário letivo.

2. Compromisso com a integridade da comunidade escolar/universitária.

3. Atenção à excepcionalidade do momento e do contexto do retorno, que requer ações de cuidado e acolhimento na retomada.

4. Compromisso com os princípios institucionais.

5. Compromisso com a inclusão.

6. Autonomia e flexibilidade para atendimento das especificidades.

7. Manter atenção a saúde física e mental da comunidade acadêmica.

O prof. Flávio Nunes apontou que o IFSUL definiu pela não realização de atividades remotas, nesse primeiro momento, considerando que a instituição de ensino deve ser um espaço de redução de desigualdades sociais e que a oferta de atividades remotas poderia reforçar e mesmo ampliar as desigualdades relativas ao acesso à educação entre os estudantes. Também a falta de formação do corpo docente para esse tipo de iniciativa reforça essa decisão. As iniciativas adotadas internamente nesse período foram no sentido de superar essas dificuldades, para que o no retorno, possa-se ofertar um ensino de qualidade.

O prof. Rui Oppermann pontuou que a data de um retorno integral é incerta, que provavelmente teremos um retorno gradativo das atividades presenciais. Destaca em sua fala a atuação das IFES, que mostram porque as universidades públicas são patrimônio da sociedade. Considera que um legado no pós-pandemia é a clareza de que sem os serviços públicos, sem as políticas públicas, não teríamos nenhuma chance contra o vírus.

Um dos pontos presentes em todas as falas foi que o maior desafio das instituições é a retomada das atividades letivas, em particular as aulas da graduação nas universidades dos conjunto de cursos nos IFs. Pela necessidade de formação do corpo docente, mas principalmente pelos cuidados necessários para não promover evasão, sobretudo com os estudantes cotistas, aqueles que, em geral, apresentam maior vulnerabilidade social.

A profa. Lúcia Pellanda, epidemiologista, que abriu a aula pública é apresentada aqui por último pela concisão e clareza na síntese do que é necessário observar. A Reitora apresentou os Desafios do Retorno, aquilo que não se pode perder de vista no planejamento de uma volta, gradual, às atividades, destacando que isso não pode ser feito antes de termos uma curva consistentemente descendente, sendo que, pelas características, as universidades devem ser as últimas a retomar suas atividades presenciais plenas.

Sinteticamente os pontos apresentados são:

1. É preciso saber em que momento da pandemia estamos.

2. Quais as condições de saúde, física e mental, da comunidade universitária? Quais as condições de trabalho e estudo? É necessário ter um retrato preciso da nossa comunidade.

3. Como o retorno às atividades impacta na circulação de pessoas? Nossos estudantes e servidores vem de onde? Vão para onde? Isso pode gerar uma segunda onda? Se sim, estamos preparados para enfrentá-la?

Além destes é necessário que nossas instituições se preparem para essa volta, que deverá ser gradual e limitada num primeiro momento. Isso leva a um conjunto de desafios práticos:

1. É necessário ter uma comunidade universitária informada e engajada.

2. É necessário proporcionar inclusão digital para servidores e estudantes.

3. É necessário planejamento e discussão de metodologias de ensino e formação para atuar com novas metodologias (se implementadas).

4. É necessário levar em conta a vida real: os servidores vem de situação de sobrecarga de trabalho (não estamos em férias), estudantes também estão em situação de sobrecarga, muitos com trabalho e estudos acumulados.

5. Precisa-se pensar nas especificidades de cursos e áreas do conhecimento, como o caso das aulas práticas, dos estágios e dos públicos específicos.

6. A instituição precisa construir protocolos de prevenção e rastreamento, o que demanda pessoal e recursos.

7. É necessário adequar o espaço físico e as atividades para que trabalhemos abaixo da capacidade de lotação de salas e auditórios (25% a 50%).

8. Não se pode esquecer que os problemas já conhecidos das IFES continuam ai.

A Reitora finalizou sua fala apontando a contradição que vivemos, entre o ideal e o real, onde as instituições tem cada vez mais atendido às demandas relativas às suas funções, com a ampliação da oferta de ensino, com a realização de praticamente toda pesquisa científica nacional, da extensão e agora da inovação, sem que isso signifique a ampliação, na mesma proporção, do aporte de recursos para infraestrutura e pessoal.

Do conjunto das falas podemos apontar algumas propostas práticas que poderiam ser observadas no planejamento de um retorno gradual, quando acontecer, de acordo com as possibilidades e necessidades:

1. Estudos domiciliares para estudantes em grupos de risco ou com comorbidades;

2. Priorização de atendimento aos estudantes com dificuldades de aprendizado;

3. Priorização da recuperação das atividades aos formandos;

4. Flexibilização de registros de presenças e de outras normas adotadas em tempos usuais.

5. Utilização de estratégias pedagógicas mistas.

Por fim é fundamental que a gestão da instituição realize diagnósticos, planejamento e ações nesse período, com vistas a proporcionar um horizonte possível de retomada, para quando tivermos as condições sanitárias para tal. Entre as ações podemos citar:

1. Análise dos ambientes acadêmicos e administrativos;

2. Identificação dos membros da comunidade acadêmica em grupo de risco;

3. Capacitação de servidores e estudantes;

4. Proposição de estratégias pedagógicas;

5. Plano de alocação de recursos financeiros;

6. Parcerias com centros de saúde de referência;

7. Observância das orientações dos órgãos de saúde;

8. Protocolos para cada unidade/campus;

9. Comitês em cada unidade/campus para prevenção e combate a covid-19;

10. Promoção de comunicação educativa.

 

— Prof. Anderson Genro Alves Ribeiro,
Docente da UFFS,  filiado à SINDUFFS


Assista a Aula Pública realizada pela ADUFRS com o tema Educação em Tempos de Pandemia: Os desafios do retorno, proferida pela Reitora da UFSCPA, profa. Lúcia Pellanda, e pelos reitores do IFRS, UFRGS, IFSUL, professores Júlio Heck, Rui Oppermann e Flávio Nunes, na íntegra abaixo: